A gestão de pessoas na educação para uma boa gestão escolar
A aptidão do diretor e do corpo docente tem um impacto significativo nos resultados dos alunos e na administração da escolas.
O Brasil ainda enfrenta desafios consideráveis na agenda de gestão de pessoas para seleção, gestão de desempenho, desenvolvimento e engajamento de gestores no serviço público. Problemas como clientelismo, recrutamento antiquado, desenho inadequado das carreiras e falta de capacitação afetam a efetividade do setor público diariamente. Essas deficiências são particularmente evidentes na educação, sobretudo nos cargos de gestão e liderança.
Dos 12 milhões de servidores públicos brasileiros, 20% são professores. A educação é o serviço com maior capilaridade no território nacional, com 37,9 milhões de matrículas em 2023. A professora é o principal rosto do Estado para 30 milhões de famílias diariamente. Apesar do baixo prestígio social, ela é o principal fator intraescolar de aprendizagem, responsável por 60% do desempenho dos estudantes.
Diversos estudos mostram que a aptidão do diretor escolar tem um impacto significativo nos resultados dos alunos e na gestão escolar. Importa notar que os diretores escolares são, em sua maioria, professores alçados a essa posição de gestão e liderança. Portanto, a formação docente está diretamente relacionada com a qualificação desses futuros gestores. Diretores e diretoras aptos, bem preparados e com as condições necessárias para gerir suas equipes são capazes de estabelecer metas, construir uma cultura escolar positiva, liderar programas de ensino e tomar decisões importantes sobre recursos.
Os estudantes brasileiros estão enfrentando um severo apagão educacional, evidenciado pelos resultados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2023, recentemente divulgados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). O índice é composto por duas variáveis: a taxa de aprovação, que mostra se os alunos estão passando de ano, e a nota padronizada, que mede se os alunos estão aprendendo de verdade. Os resultados de 2021, a primeira avaliação pós-pandemia, revelaram que apenas 36% dos estudantes apresentavam aprendizagem adequada em língua portuguesa e 5% em matemática ao final do ensino médio, mas esses dados não são comparáveis aos da edição mais recente.
Para avaliar os avanços e desafios, é necessário comparar o IDEB 2023 com o de 2019, o último antes da crise sanitária. Em todas as etapas analisadas, os alunos tiveram melhores índices de aprovação, mas aprenderam menos em comparação com 2019. O indicador de aprendizagem nos anos iniciais caiu de 6,02 para 5,91, nos anos finais de 5,21 para 5,10, e no ensino médio de 4,54 para 4,45. O Brasil está falhando em garantir o direito fundamental de aprender.
Exatamente sob a perspectiva de que lideranças dentro das escolas fazem a diferença, países como China, Estônia, Canadá e Coreia do Sul demonstram que políticas de investimento na carreira docente, como formação inicial vinculada à prática pedagógica, recrutamento rigoroso e formação continuada, geram resultados positivos no aprendizado de crianças e adolescentes.
No Brasil, a carreira docente é pouco atrativa e apenas 5% dos estudantes do ensino médio desejam se tornar professores. Os ingressantes nas licenciaturas frequentemente têm desempenho acadêmico inferior, e a evasão nesses cursos chega a 55%. Segundo o Todos Pela Educação, 60% dos concluintes de cursos de formação docente estudam a distância, mais que o dobro de outros cursos superiores. Essa formação precária resulta em professores mal preparados que, ao se tornarem diretores – e líderes -, perpetuam práticas de gestão ineficazes. Além disso, quase 50% dos diretores escolares nas redes estaduais do Brasil ainda são escolhidos por indicação política, exacerbando o problema.
A liderança escolar é vital para a qualidade da educação
Há uma reação importante conduzida por atores como o Congresso Nacional, o Ministério da Educação e o CNE (Conselho Nacional de Educação). Em 2021, os conselheiros publicaram a Base Nacional Comum de Competências do Diretor Escolar, estabelecendo com clareza as competências esperadas de um gestor escolar. No primeiro semestre, o MEC homologou a resolução n° 4/2024 do CNE, com novas diretrizes para formação de professores que impõem limites à educação a distância e vinculam a formação inicial docente à experiência prática em instituições de educação básica desde o início do curso. Além disso, o Novo Fundeb, aprovado pelo Congresso em 2020, começa a impactar na forma de seleção dos diretores escolares, exigindo escolha democrática da comunidade escolar associada a uma prévia avaliação de mérito e desempenho.
A liderança escolar é vital para a qualidade da educação. Professores bem formados e satisfeitos com sua carreira têm potencial para se tornarem diretores engajados, desempenhando um papel crucial na melhoria da aprendizagem dos estudantes. É essencial aprimorar os processos de recrutamento e desenvolvimento de lideranças no setor educacional para garantir uma educação de qualidade e promover o sucesso acadêmico dos alunos brasileiros.
Fonte: nexo, acesso em 28/08/2024
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