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03 out 23 08:00

Especialistas defendem regulamentação de plataformas para combater violência nas escolas

Especialistas apontam plataformas como Telegram e Discord como mais propícios ao terrorismo on-line

Representante do Monitor do Debate Político no Meio Digital da Universidade de São Paulo (USP), Michele Prado considera imprescindível regulamentar e responsabilizar as plataformas digitais. Ela defende a adoção, pelas plataformas, de mecanismos mais efetivos para coibir a propagação de conteúdos de ódio e de extremismo, como a identificação e remoção de conteúdos que incitem a violência.

 

 

Segundo ela, algumas plataformas apresentam ambientes mais favoráveis para usuários disseminarem extremismo ou terrorismo on-line “sem serem incomodados”, como Telegram e Discord.

Terrorismo

Michele Prado sugere ainda que o Brasil participe do Fórum Global da Internet para Combater o Terrorismo (Global Internet Forum to Counter Terrorism) e já apresentou indicação nesse sentido ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Segundo ela, falta no País uma lista de grupos terroristas ligados à supremacia branca e ao terrorismo de extrema direita, o que dificulta a moderação das plataformas para derrubar esses conteúdos. 

“Porque a plataforma própria não designa uma organização como terrorista ou um grupo como extremista. Ela utiliza listas pré-existentes, principalmente de agências supranacionais ou dos próprios países”, explicou. 

 

Grupos extremistas

Ela citou ainda estudo coordenado pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) Daniel Cara relacionando os ataques às escolas ao extremismo de direita. Segundo o estudo, as motivações para os ataques incluem bullying e situações de exposição.

“Existe um perfil já delineado que mostra que são jovens brancos, adolescentes. Esses jovens acabam sendo alvo de cooptação de discursos de extrema direita na internet”, afirma Michele. “[Existem] grupos na internet que funcionam dentro dessa dinâmica da violência, de uma perspectiva de mundo de extrema direita, de misoginia, e que propagam essa violência”, acrescentou. 

 

“Efeito contágio”

Marta Avancini, da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca), chamou a atenção para o chamado “efeito contágio” que ocorre com a divulgação dos agressores e dos detalhes dos ataques.

Conforme ela, nos últimos 21 anos, foram 22 ataques a escolas no Brasil, cometidos por estudantes e ex-estudantes, resultando nas mortes de 23 alunos, 5 professores e 2 profissionais de educação, além de cinco atiradores que se mataram (dados até abril de 2023).

Coordenador do Laboratório de Operações Cibernéticas do Ministério da Justiça (Ciberlab), que dá apoio às polícias estaduais nas investigações de crimes praticados na internet, Alesandro Barreto também alertou para o “efeito contágio”. Por isso, ele defende que as plataformas e os grupos de mídia não deem  notoriedade aos criminosos e nem divulguem fotos deles.

 “As plataformas têm tecnologia, por exemplo, para identificar quando um usuário cria várias contas usando o mesmo telefone ou o mesmo computador e, ao invés de derrubar uma conta, ela pode derrubar várias”, exemplificou.

Ele sugere ainda que a legislação obrigue as plataformas a fornecer informações de agressores às polícias sem necessidade de ordem judicial e de forma rápida sempre que houver perigo na vida de crianças e adolescentes. Conforme ele, já houve casos de demora na resposta por parte de plataformas estrangeiras. 

A relatora do grupo, deputada Luisa Canziani (PSD-PR), garantiu que seu relatório vai apontar os caminhos legislativos para o combate aos ataques, com responsabilização das plataformas e da mídia na divulgação dos casos.

 

Não subestimar

Presidente do Conselho Nacional de Secretários de Segurança Pública (Consesp), Sandro Caron afirma que há duas fontes de informação sobre ataques nas escolas: mensagens que circulam entre os alunos em redes sociais e dados do Ciberlab do Ministério da Justiça. Segundo ele, nenhuma mensagem deve ser subestimada e todas devem ser repassadas para as polícias para serem investigadas. 

Representante da organização não governamental SaferNet Brasil, que mantém canal onde é possível denunciar violações de direitos humanos na internet, Gustavo Barreto apresentou dados mostrando o crescimento, entre 2021 e 2022, do número de denúncias de apologia a crimes contra a vida, misoginia, racismo, LGBTfobia, entre outros. Na visão de Barreto, há uma retroalimentação: a violência off-line alimenta a violência on-line e vice-versa. 

 

Leis para coibir ataques

Segundo ele, já existem leis que podem ser aplicadas para prevenir os ataques, como a Lei 13.185/15, que institui programa de combate ao bullying, e a Lei 14.333/23, que institui a política nacional de educação digital.

Para colocar em prática essas leis, as escolas podem, por exemplo, promover programa sobre o uso ético e consciente da internet para os alunos, envolvendo as famílias, e criar um protocolo de como agir no caso de violência on-line.

 

Menos formação

Porém, em sentido contrário a essa recomendação, a pesquisa TIC Educação, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) e divulgada nesta semana, mostra que, em 2022, os professores tiveram menos treinamento para uso das tecnologias digitais.

“De 2021 para 2022, a porcentagem de professores que relataram ter passado por alguma formação continuada para uso de tecnologias digitais reduziu de 65% para 56% dos profissionais”, apontou.

 

Fonte: Agência Câmara de Notícias, acesso em 02/10/23


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