
Escolas particulares de MG enfrentam queda de 10% nas matrículas em 2025 e revisam reajustes para 2026
As escolas particulares de Minas Gerais registraram queda de 10% nas matrículas em 2025, na comparação com o mesmo período de 2024, segundo o Sinepe MG. O recuo pressiona as projeções de reajuste de mensalidades para 2026 — que inicialmente estavam na faixa de 7% a 10% — e força uma revisão de estratégias de preço, concessão de benefícios e relacionamento com as famílias para preservar a base de alunos e a sustentabilidade do negócio.
Renda mais apertada e concorrência no infantil
O superintendente do Sinepe MG, Paulo Leite, aponta dois vetores principais para a retração:
- Conjuntura financeira mais restrita das famílias em comparação a 2024, reduzindo a capacidade de pagamento e aumentando a sensibilidade a preços.
- Melhoria da qualidade na educação infantil das redes municipais, que oferecem acesso gratuito e infraestrutura comparável, ampliando a concorrência especialmente sobre escolas menores e focadas na primeira infância.
O impacto não é homogêneo: instituições com maior reputação local e proposta pedagógica consolidada tendem a segurar melhor a demanda; já escolas de pequeno porte e com atuação concentrada em Educação Infantil sentem mais intensamente o efeito da migração para a rede pública.
Reajustes de 2026: de 7–10% planejados à calibragem caso a caso
A inflação acumulada de 5,17% nos últimos 12 meses funciona como um “piso técnico” das correções. Porém, o cenário de demanda pressionada levou muitas escolas a:
- Trabalhar faixas de reajuste mais baixas ou escalonadas ao longo do ano letivo;
- Aplicar travas temporárias (congelamentos parciais) para segmentos ou séries mais sensíveis a preço;
- Manter, em regiões altamente competitivas, os mesmos valores praticados em 2025.
O repasse integral próximo ao patamar originalmente previsto (7% a 10%) tende a se concentrar em instituições com procura mais estável, capacidade de diferenciação clara e indicadores de satisfação de famílias elevados.
Estratégias de retenção: descontos, bolsas e negociação ampliada
Para mitigar perdas e preservar a ocupação, as escolas expandiram a margem de negociação, com destaque para:
- Bolsas e descontos proporcionais à renda, com critérios transparentes e reavaliação periódica;
- Condições comerciais escalonadas (ex.: descontos progressivos por adimplência e fidelidade);
- Travamento temporário de reajuste para famílias em situação sensível;
- Campanhas de rematrícula antecipada com vantagens (isenção de taxa, parcelamentos, bônus em material);
- Políticas de renegociação e mediação de débitos para reduzir inadimplência sem litígio.
Em muitos casos, especialmente onde a concorrência com a rede municipal é mais acirrada, a calibragem resultou na manutenção nominal dos preços de 2025.
Pressão de custos: inclusão, acessibilidade e segurança
Apesar do esforço para conter aumentos, os custos operacionais seguem em alta. Entre os itens que mais pressionam:
- Inclusão escolar: contratação de profissionais especializados, adequações pedagógicas e materiais de apoio;
- Acessibilidade: obras, equipamentos e adequações estruturais contínuas;
- Segurança: controle de acesso, monitoramento, protocolos e treinamento de equipes;
- Pessoal: reajustes salariais, encargos e formação continuada de docentes e equipe técnica.
Esse conjunto de despesas restringe a margem de manobra das escolas, tornando a gestão de custos e o ganho de eficiência processos críticos em 2025/2026.
Dinâmica competitiva: redes municipais sobem o sarrafo
A melhoria da oferta pública na Educação Infantil, com infraestrutura comparável e gratuidade, aumentou a atratividade da rede municipal. Para famílias com orçamento comprimido, a percepção de custo-benefício pesa:
- No Infantil, a migração tende a ser mais forte, pois a gratuidade reduz a pressão no orçamento familiar;
- No Fundamental e Médio, a decisão é mais sensível à proposta pedagógica, segurança, atividades extracurriculares e resultados acadêmicos.
Nesse ambiente, diferenciação clara e comunicação de valor passam a ser tão relevantes quanto o preço.
Voz do setor
“O momento exige calibragem fina entre sustentabilidade financeira e sensibilidade ao orçamento das famílias. As escolas se movimentam para ampliar as negociações e não perder alunos, tentando reverter essa queda momentânea”, afirma Paulo Leite, superintendente do Sinepe MG. Segundo ele, o processo é fortemente influenciado pela competição local e pelo posicionamento de cada instituição.
Curto prazo: preservar base e reduzir evasão
A expectativa do setor é que a combinação de revisão de reajustes e políticas de bolsa:
- Contribua para manter a ocupação de turmas-chave;
- Reduza a evasão e a inadimplência via renegociação ativa;
- Melhore o fluxo de caixa com previsibilidade (adesão a planos anuais, antecipação de rematrículas).
Gestores também têm reforçado ações de proximidade com as famílias — reuniões periódicas, transparência sobre custos e resultados pedagógicos — para construir confiança e justificar eventuais correções.
Médio prazo: proposta pedagógica e comunicação de valor
Para 2026, a estratégia tende a incluir:
- Reforço da proposta pedagógica (literacia, matemática, bilinguismo, competências socioemocionais);
- Diferenciação de serviços (tempo integral, tutoria acadêmica, itinerários formativos, apoio à inclusão);
- Melhoria da comunicação de valor: evidenciar resultados (aprovações, avaliações externas, projetos autorais), segurança e atendimento;
- Parcerias com edtechs e formação continuada de docentes para elevar a qualidade de ensino com eficiência;
A mensagem central é transformar preço em consequência da percepção de valor, e não o inverso.
O que observar até o ciclo de rematrículas
- Elasticidade a preço por segmento: Infantil segue mais sensível; Médio depende fortemente de resultados e preparação para o Enem/vestibulares.
- Competição local: regiões com forte oferta municipal tendem a manter preços de 2025 por mais tempo.
- Indicadores de satisfação das famílias: NPS e retenção por série ajudam a calibrar reajustes e benefícios.
- Gestão de custos: ganhos de eficiência em contratos, energia, tecnologia e processos impactam a necessidade de repasse.
Conclusão
A queda de 10% nas matrículas em 2025 acende o alerta, mas também acelera ajustes importantes. Entre a necessidade de cobrir um piso técnico de 5,17% e a realidade de renda mais apertada das famílias, prevalece uma lógica de calibragem caso a caso. Onde a proposta de valor é clara e bem comunicada, as escolas tendem a preservar base e margem; onde a concorrência pública está mais forte, ganha espaço a combinação de manutenção de preços, negociação ampliada e foco em diferenciação pedagógica.
Fonte: Comunicação IBEE, acesso 31/10/25
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