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31 out 25 10:36

Escolas particulares de MG enfrentam queda de 10% nas matrículas em 2025 e revisam reajustes para 2026

As escolas particulares de Minas Gerais registraram queda de 10% nas matrículas em 2025, na comparação com o mesmo período de 2024, segundo o Sinepe MG. O recuo pressiona as projeções de reajuste de mensalidades para 2026 — que inicialmente estavam na faixa de 7% a 10% — e força uma revisão de estratégias de preço, concessão de benefícios e relacionamento com as famílias para preservar a base de alunos e a sustentabilidade do negócio.

Renda mais apertada e concorrência no infantil

O superintendente do Sinepe MG, Paulo Leite, aponta dois vetores principais para a retração:

  • Conjuntura financeira mais restrita das famílias em comparação a 2024, reduzindo a capacidade de pagamento e aumentando a sensibilidade a preços.
  • Melhoria da qualidade na educação infantil das redes municipais, que oferecem acesso gratuito e infraestrutura comparável, ampliando a concorrência especialmente sobre escolas menores e focadas na primeira infância.

O impacto não é homogêneo: instituições com maior reputação local e proposta pedagógica consolidada tendem a segurar melhor a demanda; já escolas de pequeno porte e com atuação concentrada em Educação Infantil sentem mais intensamente o efeito da migração para a rede pública.

Reajustes de 2026: de 7–10% planejados à calibragem caso a caso

A inflação acumulada de 5,17% nos últimos 12 meses funciona como um “piso técnico” das correções. Porém, o cenário de demanda pressionada levou muitas escolas a:

  • Trabalhar faixas de reajuste mais baixas ou escalonadas ao longo do ano letivo;
  • Aplicar travas temporárias (congelamentos parciais) para segmentos ou séries mais sensíveis a preço;
  • Manter, em regiões altamente competitivas, os mesmos valores praticados em 2025.

O repasse integral próximo ao patamar originalmente previsto (7% a 10%) tende a se concentrar em instituições com procura mais estável, capacidade de diferenciação clara e indicadores de satisfação de famílias elevados.

Estratégias de retenção: descontos, bolsas e negociação ampliada

Para mitigar perdas e preservar a ocupação, as escolas expandiram a margem de negociação, com destaque para:

  • Bolsas e descontos proporcionais à renda, com critérios transparentes e reavaliação periódica;
  • Condições comerciais escalonadas (ex.: descontos progressivos por adimplência e fidelidade);
  • Travamento temporário de reajuste para famílias em situação sensível;
  • Campanhas de rematrícula antecipada com vantagens (isenção de taxa, parcelamentos, bônus em material);
  • Políticas de renegociação e mediação de débitos para reduzir inadimplência sem litígio.

Em muitos casos, especialmente onde a concorrência com a rede municipal é mais acirrada, a calibragem resultou na manutenção nominal dos preços de 2025.

Pressão de custos: inclusão, acessibilidade e segurança

Apesar do esforço para conter aumentos, os custos operacionais seguem em alta. Entre os itens que mais pressionam:

  • Inclusão escolar: contratação de profissionais especializados, adequações pedagógicas e materiais de apoio;
  • Acessibilidade: obras, equipamentos e adequações estruturais contínuas;
  • Segurança: controle de acesso, monitoramento, protocolos e treinamento de equipes;
  • Pessoal: reajustes salariais, encargos e formação continuada de docentes e equipe técnica.

Esse conjunto de despesas restringe a margem de manobra das escolas, tornando a gestão de custos e o ganho de eficiência processos críticos em 2025/2026.

Dinâmica competitiva: redes municipais sobem o sarrafo

A melhoria da oferta pública na Educação Infantil, com infraestrutura comparável e gratuidade, aumentou a atratividade da rede municipal. Para famílias com orçamento comprimido, a percepção de custo-benefício pesa:

  • No Infantil, a migração tende a ser mais forte, pois a gratuidade reduz a pressão no orçamento familiar;
  • No Fundamental e Médio, a decisão é mais sensível à proposta pedagógica, segurança, atividades extracurriculares e resultados acadêmicos.

Nesse ambiente, diferenciação clara e comunicação de valor passam a ser tão relevantes quanto o preço.

Voz do setor

“O momento exige calibragem fina entre sustentabilidade financeira e sensibilidade ao orçamento das famílias. As escolas se movimentam para ampliar as negociações e não perder alunos, tentando reverter essa queda momentânea”, afirma Paulo Leite, superintendente do Sinepe MG. Segundo ele, o processo é fortemente influenciado pela competição local e pelo posicionamento de cada instituição.

Curto prazo: preservar base e reduzir evasão

A expectativa do setor é que a combinação de revisão de reajustes e políticas de bolsa:

  • Contribua para manter a ocupação de turmas-chave;
  • Reduza a evasão e a inadimplência via renegociação ativa;
  • Melhore o fluxo de caixa com previsibilidade (adesão a planos anuais, antecipação de rematrículas).

Gestores também têm reforçado ações de proximidade com as famílias — reuniões periódicas, transparência sobre custos e resultados pedagógicos — para construir confiança e justificar eventuais correções.

Médio prazo: proposta pedagógica e comunicação de valor

Para 2026, a estratégia tende a incluir:

  • Reforço da proposta pedagógica (literacia, matemática, bilinguismo, competências socioemocionais);
  • Diferenciação de serviços (tempo integral, tutoria acadêmica, itinerários formativos, apoio à inclusão);
  • Melhoria da comunicação de valor: evidenciar resultados (aprovações, avaliações externas, projetos autorais), segurança e atendimento;
  • Parcerias com edtechs e formação continuada de docentes para elevar a qualidade de ensino com eficiência;

A mensagem central é transformar preço em consequência da percepção de valor, e não o inverso.

O que observar até o ciclo de rematrículas

  • Elasticidade a preço por segmento: Infantil segue mais sensível; Médio depende fortemente de resultados e preparação para o Enem/vestibulares.
  • Competição local: regiões com forte oferta municipal tendem a manter preços de 2025 por mais tempo.
  • Indicadores de satisfação das famílias: NPS e retenção por série ajudam a calibrar reajustes e benefícios.
  • Gestão de custos: ganhos de eficiência em contratos, energia, tecnologia e processos impactam a necessidade de repasse.

Conclusão

A queda de 10% nas matrículas em 2025 acende o alerta, mas também acelera ajustes importantes. Entre a necessidade de cobrir um piso técnico de 5,17% e a realidade de renda mais apertada das famílias, prevalece uma lógica de calibragem caso a caso. Onde a proposta de valor é clara e bem comunicada, as escolas tendem a preservar base e margem; onde a concorrência pública está mais forte, ganha espaço a combinação de manutenção de preços, negociação ampliada e foco em diferenciação pedagógica.

Fonte: Comunicação IBEE, acesso 31/10/25


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