Família de aluna denuncia bullying e racismo em escola particular de Salvador
A prática de bullying se tornou cada vez mais comum entre os estudantes nas escolas. A vítima mais recente foi uma adolescente negra de 12 anos, sobrinha do cantor e compositor Filipe Escandurras. O artista compartilhou nas redes sociais os diversos comentários ofensivos que a menina recebeu em um grupo de WhatsApp com colegas de classe.
A mãe da jovem, Soleide de Carvalho, 49 anos, revelou que essa não foi a primeira vez que a menina sofreu bullying no colégio Ponto Alto, que fica localizado no bairro de São Rafael, em Salvador. De acordo com a tecnóloga em logística, a adolescente recebeu comentários ofensivos de uma outra colega da instituição. “A escola não se posiciona e não toma providência”, disse.
Nos prints revelados por Escandurras no Instagram, os comentários, implicâncias e o bullying são realizados por um colega de sala, que teria a mesma idade. Segundo Soleide, a situação com a sua filha vem ocorrendo há cerca de seis meses.
“Começou há seis meses, quando minha outra filha [de 19 anos], que estuda no mesmo colégio, a pegou no banheiro da escola chorando. Disse que estava se sentindo humilhada com os comentários dos colegas. Minha outra filha, de 27 anos, foi ao colégio para pedir uma conversa com os pais da criança [que praticou o bullying], mas a instituição não tomou nenhuma posição e não me chamou para conversar’, explica.
A mãe da menina contou que flagrou a filha chorando no quarto e, quando questionou o que estava ocorrendo, a adolescente mostrou as mensagens que recebeu do colega via aplicativo. “Eu pedi para ela sair do grupo e que iria acionar a escola”.
Apesar de não ser a única adolescente negra da sala, apenas ela sofreria o racismo e as implicâncias do estudante, inclusive por manter o cabelo no estilo black. Em outro momento, durante a aula de Educação Física, a menina recebeu uma ‘bolada’ do mesmo adolescente, mas não levou a situação para frente porque achou que era apenas uma brincadeira de momento no ‘Baleô’. No grupo do WhatsApp, ela compreendeu que a bola que recebeu com força foi uma agressão premeditada pelo colega de sala.
Nas mensagens também é possível observar que o colega pede para a adolescente procurar um otorrino. Segundo a jovem, seria para que ela percebesse que vários estudantes da instituição falavam mal dela no colégio e que ela escutasse melhor as ofensas.
A mãe espera que o colégio tenha voz ativa e tome uma providência, visto que as ameaças e ofensas não são recentes e já vem sendo praticadas há mais de seis meses na instituição. Ela também contou que em 2023, a filha não estudará mais no Ponto Alto. “Eu espero que esses pais se posicionem. Provavelmente a escola nem acionou os pais desse menino, já que da última vez [que a filha sofreu bullying], a instituição não entrou em contato comigo. (…) Eu fui indicada para escola, tive boas referências. Mas na prática é o inverso. Quando você começa a conviver, o mundo lá dentro é contraditório”.
Resposta da instituição
O Colégio Ponto Alto, após a situação vir à tona na mídia, desativou os comentários de uma publicação e, nesta segunda-feira (22), também desativou a página da instituição no Instagram.
Em nota, a assessoria do colégio informou que não aceita e não compactua com o discurso de ódio e bullying que um colega proferiu à aluna e que “mantém um discurso de conscientização dos estudantes com práticas educativas para evitar situações como essa, a qual a instituição tomou conhecimento pelas redes sociais”.
Sobre as ofensas realizadas no WhatsApp, a escola explica que “só consegue dar suporte educativo às famílias se tiver conhecimento dos fatos”.
Mesmo com a situação ocorrendo dentro do colégio, a escola informou que teve conhecimento das práticas de bullying no início do ano letivo, onde ocorreu um desentendimento isolado da aluna com o estudante, mas que também houve uma briga entre os responsáveis dos adolescentes. O caso acabou, de acordo com o Ponto Alto, sendo resolvido sem que houvesse desdobramento do caso. Por fim, a instituição vai apurar a situação mais a fundo.
“Uma comissão acadêmica foi instaurada e já estão acontecendo reuniões com os responsáveis para que as sanções acadêmicas cabíveis sejam aplicadas”.
Fonte: Correio, acesso em 23/11/22